UMA HISTÓRIA SABOROSA DO MUNDO

           Quando comprei o livro “Uma História Saborosa do Mundo. Dez milênios de globalização” ( Portugal: Casa das Letras, 2008 ), o fiz mais por curiosidade, já pensando ser mais uma dessas obras enciclopédicas, rasas e repleta de exotismos, sem maior significado.  Tampouco conhecia o autor. Errei redondamente. Santa ignorância! Primeiro, o autor é altamente qualificado, com vasta produção em áreas como escravidão, história das doenças, alimentação e nutrição. Quando escreveu o livro, era professor catedrático na Universidade Estatal de Bowling Green. Foi o organizador da obra, em dois volumes, The Cambridge World  History of Food, sendo o livro aqui apresentado baseado nela. Ao contrário do que pensei inicialmente, é um livro denso, consistente, indispensável para quem tem interesse em alimentação.
           A apresentação já nos oferece uma visão geral da pretensão do autor: uma perspectiva da globalização dos alimentos, desde os dias dos caçadores-coletores até aos atuais produtos transgênicos, de origem animal e vegetal. Caminhamos, após os caçadores-coletores, com a institucionalização da agricultura e a domesticação dos animais, e a consequente difusão das culturas agrícolas em varias partes do mundo. Após, concentra-se no “intercâmbio de Colombo”, com trocas de plantas e animais, que revolucionaram a demografia de todos os cantos do mundo. E nos últimos capítulos, é abordado o impacto da industrialização, no processamento e distribuição dos alimentos; concluindo com os problemas atuais relacionados com a alimentação, desde a fome à obesidade, passando pelo impacto da biotecnologia alimentar e da indústria de comida rápida. Uma boa apresentação, sintética, mas que oferece um quadro geral do que espera o leitor.
           São 27 capítulos, envolvendo desde: os últimos caçadores e os primeiros agricultores; os animais e as plantas das diversas partes do mundo; as consequências do Neolítico, as empresas e os impérios; o Novo Mundo e seus alimentos; o intercâmbio de Colombo e suas trocas com os Velhos e Novos Mundos; o açúcar e as novas bebidas; o imperialismo ibérico e a abundância no paraíso; as fronteiras dos alimentos estrangeiros; capitalismo, colonialismo e culinária; noções de nutrientes e nutrição; globalização e as escolhas da abundância; comida rápida: um hino à celulite; nós e a fome e abundância que nos ameaça.
           É um livro indispensável para cursos de Antropologia, Nutrição, Saúde e Gastronomia, por abarcar temáticas variadas, sem cair no senso comum ou nos achismos. E esperar que a nossa indústria editorial não demore para a tradução completa da obra de Cambridge.    

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